Nós, mulheres negras comunicadoras brasileiras, estamos em Marcha para exigir uma mudança no cenário da comunicação brasileira e a forma como tem veiculado um dos maiores problemas enfrentados por nós mulheres negras, a violência.
A comunicação, que deveria cumprir um papel fundamental enquanto aliada da sociedade para contribuir com mudanças que promovam direitos, cidadania e dignidade para todas as pessoas, vem historicamente nos fragilizando, violentando e revitimizando através de imagens estereotipadas e discursos que culpabilizam as próprias vítimas pelas violências sofridas.
Em manchetes policialescas que seguem a lógica de que nosso sangue e nossa dor vale audiência, onde tudo vale por um clique, continuam a rifar nosso direito à dignidade, que secularmente construímos. Mulheres negras, lésbicas, bis e trans continuam sendo motivo de chacota e tendo suas sexualidades e identidades desrespeitadas.
Nossos filhos e filhas, mortos pelas mãos do Estado, ou pela ausência dele, são expostos cotidianamente por parte da imprensa brasileira conduzida pelo olhar colonial.
Viemos aqui reafirmar que não haverá retrocesso!
Denunciamos o racismo e sexismo que atravessam cotidianamente nossas vidas e nossos corpos! Todas as pesquisas, todas as bases de dados sobre violência de gênero, revelam que nós, mulheres negras, fazemos parte de uma estatística gritante e desproporcional de violência.
Denunciamos que o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) – base alimentada por registros de doenças de notificação compulsória ao Sistema Único de Saúde (SUS) – mostram que, em 2022, 202.608 brasileiras sofreram algum tipo de violência, sendo que a maioria (55%) eram mulheres negras.
Informações do Sistema Nacional de Segurança Pública (Sinesp) também indicam que entre as mulheres vítimas de violência sexual cujas ocorrências policiais incluíam o registro de cor/raça (8.062), 62% (5.024) eram pretas ou pardas.
Dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) evidenciam outro dado alarmante: entre as 3.373 mulheres assassinadas em 2022, cujas informações de raça e cor foram registradas, 67% eram negras.
Denunciaremos cada tentativa de distorcer nossas narrativas, e se a mídia hegemônica seguir nos silenciando, sempre haverá uma nova forma de falar, de comunicar, porque essa foi uma das armas mais potentes que nossas ancestrais nos legaram, o poder de comunicar de todas as formas.
A comunicação é um direito, e nós, mulheres negras, reivindicamos com unhas e dentes, porque a conquista de direitos não foi nos dada de mãos beijadas, foi através da nossa luta e do nosso poder criativo de comunicar e denunciar.
Na arte das nossas escrevivências, reside o poder de perpetuar as nossas existências, de reescrever as nossas histórias. Desde os folhetos abolicionistas até a ocupação tecnológica.
Estamos em Marcha por uma comunicação que nos contemple!
Estamos em Marcha contra todas as formas de violência contra nossos corpos e nossas vidas!
Estamos em Marcha por Reparação e Bem Viver!
Rumo à Brasília, no dia 25 de novembro de 2025.