Nós, integrantes das 34 organizações que compõem a Rede de Mulheres Negras do Nordeste, presentes em todos os estados da região, viemos por meio desta carta manifestar indignação, revolta e descontentamento com as últimas decisões tomada pelo Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, que tem afetado diretamente a presença de mulheres na liderança dos ministérios, como foi o caso da Ministra da Saúde, Nísia Trindade, e das sinalizações de afastamento da Ministra das Mulheres, Maria Aparecida Gonçalves.
É necessário problematizar questões críticas e políticas em relação ao posicionamento do governo federal. Existe uma ausência de diálogo entre os setores que tomam decisão e a sociedade civil organizada, aqui representada pelo movimento de mulheres negras, que teve papel determinante na eleição do atual presidente.
Alertamos sobre a quebra de compromisso com os diversos segmentos do movimento organizado e sobre o impacto dos acordos que têm sido firmados e costurados pelo governo federal em nome da governabilidade, sem compromisso com princípios democráticos e com lutas protagonizadas por segmentos historicamente excluídos no Brasil.
É necessário enfatizar que estes acordos têm reforçado o fortalecimento cada vez maior de segmentos conservadores, fundamentalistas religiosos, racistas, patriarcais e cis-hetoronormativos. Ademais, quando reivindicamos a presença de mulheres na composição dos cargos de alto escalão do governo, não falamos de quaisquer mulheres, mas estas que possuem verdadeiro compromisso com a agenda feminista, contra o racismo, comprometidas com a garantia de direitos, autonomia, emancipação e liberdade para as meninas e mulheres cis e trans desse país.
Em nome de uma suposta governabilidade, o governo federal tem apostado em alianças com segmentos retrógrados, que flertam com ideologias fascistas, e têm se fortalecido em todo o mundo, como é o exemplo da experiência atual nos Estados Unidos e na Argentina, com seus presidentes de extrema direita fascista, Donald Trump, e Javier Milei, respectivamente.
Presidente Lula, reiteramos que estamos em marcha e atentas as definições políticas do seu governo, nos posicionamos contra a qualquer forma de violência política e perdas de direitos. Reiteramos a importância da permanência da Ministra da Mulher, Maria Aparecida Gonçalves.
Rede de Mulheres Negras do Nordeste,
28 de fevereiro de 2025.