Que no 25 de Julho de 2024 possamos:
Enunciar novos Tempos!
Horizontalizar futuros de liberdade!
Anunciar Reparação e Bem Viver a partir das filhas e netas de Dandara, Luíza Mahin, Aqualtune, Tereza de Benguela, e de tantas outras, que nos antecederam.
Estamos na 12ª edição do Julho das Pretas, e neste 25 de Julho – Dia da Mulher Negra Afro Latinoamericana, Afro Caribenha e da Diáspora, pedimos A BENÇÃO ÀS NOSSAS ANCESTRAIS E TODAS AS PESSOAS QUE SÃO DE BENÇA. Licença para saudar amorosamente a todas as irmãs E PARENTES. PEDIMOS pelo fortalecimento de nossos Orís! Orí ô! A Marcha de Mulheres Negras Por Reparação e Bem Viver (2025), 2ª Marcha Nacional de Mulheres Negras, vem sido gestada Brasil afora Almejamos que nossas iniciativas tenham aláfia. Vitórias e prosperidade para nossa gente.
As mulheres negras estão há séculos forjando formas de Bem Viver dentro de nossas comunidades e territórios, com tenacidade, energia e a perspectiva de que as transformações que precisamos só podem ocorrer a partir do protagonismo das mulheres negras. Para tanto, temos escancarado e desnudado o racismo patriarcal cisheteronormativo na sociedade brasileira e desvelado as estratégias que articulam ataques contra os nossos corpos e nossos modos de viver e existir. A trajetória de nossas lutas atravessam o Atlântico e o Tempo, acumulando e expandindo a força que nossas ancestrais nos legaram. Fonte que nos alimenta para que continuemos tramando, tecendo, conspirando e costurando caminhos de resistência na luta por nossos direitos e pelo Bem Viver que sonhamos.
Na última década, o Movimento de Mulheres Negras se transformou na expressão do movimento social brasileiro mais capilarizada na sociedade, de modo que em todos os âmbitos e setores há mulheres negras politicamente organizadas. E é a partir desta ampla coletividade que viemos experimentando reflexões e práticas de Bem Viver como perspectiva orientadora do projeto de Nação que queremos para o Brasil. Este projeto vem de tessituras ancestrais do acúmulo das mulheres e comunidades negras em luta, bebe das águas e culturas dos povos originários – nossas parceiras e parceiros históricos, e se ancora no sonho de criação de futuros possíveis para meninas e mulheres negras, e por consequência, para todos os sujeitos e povos do Brasil.
Evidentemente, podemos demonstrar que a presença política das mulheres negras no Brasil na última década tem se consolidado como força motriz para a vocalização das demandas políticas das maiorias historicamente excluídas, para a formulação de políticas públicas que dêem conta dos grandes desafios nacionais, na superação das desigualdades e a manutenção de uma reserva legítima para determinar mudanças nas concepções e o reposicionamento político no Brasil, em vista da Reparação histórica.
Nos últimos 50 anos a ação política das mulheres negras vem promovendo: a) o reconhecimento do racismo e da discriminação racial como fatores de produção e reprodução das desigualdades sociais experimentadas pelas mulheres no Brasil; b) o reconhecimento da necessidade de políticas específicas para as mulheres negras para a equalização das oportunidades sociais; c) o reconhecimento da dimensão racial da pobreza no Brasil e, conseqüentemente, o destaque para a influencia do racismo na problemática da feminização da pobreza; d) o reconhecimento da violência simbólica e a opressão que a brancura, como padrão privilegiado e hegemônico, exerce sobre as mulheres não-brancas; e) a revelação do projeto de Genocídio que atravessa de forma sistemática a existência, a vida e a trajetória das populações negras.
A amplificação destes debates e as disputas de narrativas protagonizadas pelas mulheres negras, no âmbito da esfera pública e da vida política e social do país, contribui para o alargamento dos sentidos de democracia, igualdade e justiça social.
No ano de 2015, lançamos a Carta da Marcha das Mulheres Negras contra o Racismo a Violência e pelo Bem Viver, e listamos as ações essenciais que o Estado brasileiro deve adotar, evidenciando ainda mais a profundidade da miséria cotidiana produzida pelo racismo.
Na Carta, exigimos o fim do racismo e do genocídio da população negra manifesto: a) na falta de acesso a direitos; b) nas violências do Estado perpetradas pelas forças de segurança pública, cujos operadores decidem quem deve viver e quem deve morrer, com a chancela dos demais órgãos do Sistema de Justiça, atingindo de maneira letal sobretudo nossas crianças, adolescentes e jovens; c) no encarceramento em massa da população negra, em especial das mulheres negras cis e trans, que ao serem tiradas de seus núcleos familiares impactam na continuidade da vida de toda sua família, visto que as mulheres negras são as principais cuidadoras em seu núcleos; d) pela política proibicionista de drogas que funciona para matar e aprisionar pessoas negras, e tem sido a principal causa de detenção no Brasil, inclusive entre mulheres; e) pela reprodução dos modelos de trabalho análogo a escravidão, e precarização do trabalho formal a partir da promoção de um suposto empreendedorismo; f) pelas ausencia de politicas de direito a cidade; g) pelo crescimento das injustiças reprodutivas contra meninas e mulheres negras cis e trans todos os dias; h) pelo sucateamento da educação e falta de condições de manutenção de crianças, adolescentes e jovens negros no ambiente escolar; i) pelos crimes de ódio contra a vida de LGBTQIAP+, que atigem sobretudo pessoas negras; j) pela violência política de raça e gênero e violências contra defensoras de direitos humanos negras em geral; k) pelo não cumprimento das normas que ensejam a preservação, proteção, demarcação, homologação e registro das terras de remanescentes de quilombos, e de demais comunidades e povos tradicionais; pelo racismo religioso; entre tantos outros aspectos de manifestação do genocídio antinegro que se intensificaram ao longo da última década.
Não podemos falar dos últimos 10 anos sem retomar o impacto da pandemia da Covid-19 na vida das mulheres negras. A pandemia escancarou realidades históricas, resultou no aprofundamento da pobreza, da fome e da morte em massa de mulheres negras e das populações mais vulneráveis. Enquanto o mundo alertava para a importância do isolamento social antes da descoberta da vacina, mulheres negras e suas famílias e comunidades permaneceram em trânsito e ativas em todo tipo de trabalho, em risco, e por conta disso foram também a maioria das mortes pela doença no Brasil.
Tendo em vista este contexto de violências históricas e contemporâneas contra mulheres negras e suas comunidades, convocamos todas as mulheres negras a insurgir na Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver, um marco revolucionário pela transmutação da sociedade brasileira que queremos e merecemos.
Para esta transmutação, saudamos e convidamos todos os ativismos e lutas promovidos pelas mulheres negras. A Marcha é espaço plural de luta e resistência para todas e todes, que como nos lembra Nilma Bentes, do movimento negro amazônico e idealizadora da Marcha, as mulheres negras sempre estão dispostas a lutar.
Desde o processo de construção da Marcha de 2015, marchar é um ato de visibilidade, de protesto e de conexão global entre as mulheres negras. A teia que estrutura o processo organizacional da marcha se inicia em nossos territórios, de maneira autônoma e inspiradora, de forma que a Marcha alimenta nossa luta cotidiana, e nossa luta cotidiana alimenta a Marcha, de maneira circular e contínua. Circular como o samba de roda, o coco, a roda do marabaixo, o xirê, as cirandas, onde as mulheres negras brilham, se divertem, resistem e perpetuam nossas culturas.
Quando indagamos as diferentes mulheres negras, de diferentes idades, das cinco regiões do Brasil, sobre o significado de “Reparação” e “Bem Viver” para a vida delas, são múltiplas as respostas, não se tem uma única definição sobre esses dois conceitos. Das vivências locais destas mulheres, dos estudos e acúmulos dos movimentos negros, do diálogo entre mulheres e pessoas negras no mundo, nascem nosso projeto de sociedade com Reparação e Bem Viver.
Desta cosmovisão de mulheres negras, surgem os valores análogos a estes conceitos, como a ancestralidade, a inclusão, o cuidado, a justiça social e ambiental, a igualdade de oportunidades, o pertencimento, a identidade, o desejo de sermos ouvidas e atendidas e a garantia de nossos direitos, corpos e territórios.
Cada agenda, demanda, pauta destas lutas movimenta a construção da 2ª Marcha Nacional de Mulheres Negras 2025, em busca da nação que queremos.
Sabemos que a Reparação não vai apagar as cicatrizes do passado, mas é preciso pautar questões estruturantes que vem afetando a vida de gerações de mulheres negras brasileiras e suas comunidades.
Por isso, no dia 25 de novembro de 2025 seremos muitas, seremos milhões de mulheres negras em Brasília, mas também nos diferentes territórios do Brasil, que com fé na ancestralidade atenderão o chamado da convocação para Marchar.
MARCHAMOS POR NOSSAS AVÓS, POR NOSSAS MÃES, POR NÓS E POR ELAS, AS MENINAS NEGRAS.
Comitê Impulsor Nacional da Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver – Brasília, 2025