Com a benção das nossas ancestrais, o Dia 25 de Julho – Dia Internacional da Mulher Negra Afrolatinoamericana, Afrocaribenha e da Diáspora foi um momento de luta e celebração em diversas capitais do país. Mulheres, meninas, mães, tias, avós, irmãs e irmãos marcharam por Reparação e Bem Viver, contra a violência e pelos direitos da população negra.
A atividade fez parte da 12ª edição do Julho das Pretas, agenda de incidência política organizado pela Articulação de Organizações de Mulheres Negras Brasileiras (AMNB), Rede de Mulheres Negras do Nordeste e a Rede Fulanas – Negras da Amazônia Brasileira que encabeçam a insubmissão de tantas outras mulheres que lutam pela vida e direitos do povo negro e o combate ao racismo.
Foram cerca de 42 marchas, atos e pré-marchas unificadas por todo o país. Os estados da Bahia, Maranhão, Piauí, São Paulo, Pernambuco e Pará levaram centenas de pessoas para marcharem rumo à Marcha de Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver, a 2ª Marcha Nacional de Mulheres Negras, que vai levar 1 milhão de nós para as ruas de Brasília, em novembro de 2025.
Durante todo o dia, articulações ocorreram presencialmente e virtualmente para demarcando que as mulheres negras estão presentes, não apenas na base da pirâmide, mas em todos os espaços construindo esse país, gerando emprego e renda, criando famílias e sendo referência no desenvolvimento da sociedade.
A luta das mulheres negras de hoje, carregam os passos de Tereza de Benguela, de Lélia Gonzalez, Dandara dos Palmares, Antonieta de Barros, Marielle Franco, Luíza Mahin, Beatriz Nascimento, Carolina Maria de Jesus, entre muitas que fizeram e ainda fazem história através do seu legado de intelectualidade, potência e resistência contra o racismo.
Sem deixar de lado todos os dados que comprovam a nossa morte diariamente, elas reuniram a força e marcharam. Rasgaram as ruas com palavras de ordem, gritos por reparação e choro por tantas outras que não puderam marchar neste dia, ceifadas pela violência doméstica, sexual, a criminalidade, o trabalho escravo e o direito de sermos mulheres negras.
Nas ruas, pediram justiça por Mãe Bernadete, Elitânia de Souza, Emily Victória e Rebeca Beatriz, essas duas últimas, apenas crianças que tiveram suas vidas interrompidas pela violência.
Manifesto da Marcha de 2025
O Comitê Impulsor Nacional da Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver (Brasília, 2025) também lançou neste dia, o Manifesto da Marcha no Julho das Pretas – fazendo uma análise da movimentação das mulheres negras ao longo da história e o que querem enquanto projeto político de emancipação da população negra.
Em Marcha
A chuva não atrapalhou a mobilização na capital baiana. Logo no início da tarde, centenas de pessoas se concentraram na Praça da Piedade, em Salvador, e seguiram em marcha em direção ao Terreiro de Jesus, caminhos percorridos por muitas ancestrais negras que lutaram pela independência do país. Crianças, jovens, adultas e idosas reivindicaram o direito à vida, a dignidade, cobrando o acesso à educação, a saúde, o fim da violência policial que atinge as favelas brasileiras.
“Hoje aqui continuamos anunciando porque Bem Viver é projeto político das mulheres negras. E hoje, neste marco, estamos aqui com as juventudes, com as mais velhas, em um encontro intergeracional, porque a gente vai marchar pelas nossas vidas, por Reparação, por Bem Viver, em união, rumo à Marcha de Mulheres Negras 2025 lá em Brasília, no dia 25 de novembro. Então, em pouco mais de 1 ano, estaremos todas juntas com 1 milhão de mulheres em Brasília, fortalecendo a luta das mulheres negras por Reparação e Bem Viver. Axé!”, disse Luciana Silveira, do Grupo de Mulheres Negras do Alto das Pombas (GRUMAP).
O som dos tambores, a alegria e a força da mulher negra brasileira sacudiram os quatro cantos do estado, malassombrando todas as injustiças que recaíram sobre a nossa gente.
“Lembrando que esse movimento é de extrema importância para nós, mulheres, que todos os dias lutamos em busca do nosso espaço e dos nossos direitos. Desde 1992 que essa data é um marco histórico na luta pela vida das mulheres negras. Eu me chamo Joice Cristina, faço parte da ACOPAMEC e do Movimento Negro Unificado. Avante, mulheres, essa luta é nossa. Em novembro de 2025, nós seremos 1 milhão de mulheres em Brasília!”, declarou outra.
No Maranhão, a Pré-Marcha de Mulheres Negras convidou para a 2ª mobilização nacional que vai acontecer no próximo ano. Estar nas ruas neste dia, foi sinônimo de que a resistência continua para que a história, o presente e o futuro não sejam apagados.
“Estou na expectativa em poder lutar por direitos, por política públicas para mulheres negras deste país, rumo à Marcha de 2025, em Brasília. Eu estarei lá”, disse a ativista da Rede de Mulheres Negras do Maranhão, Alessandra Akoni.
Do Coletivo Disparada, no Maranhão, Leide Martins também afirmou que a mobilização é para driblar as estatísticas e mostrar que, cada vez mais, mulheres negras ocupam lugares que foram negados.
“Não existimos apenas nos dados estatísticos, pelo viés do feminicídio e da subalternidade. Nós queremos igualdade e respeito. Mulher preta é potência, é um ser de possibilidades. Nós devemos transformar essa dor, toda essa negação construídos ao longo da sociedade em ação”.
As mulheres negras de Pernambuco também realizaram uma Pré-Marcha rumo à Brasília em 2025. Mesmo com chuva, ninguém arredou o pé enquanto a mensagem não fosse passada.
“A reparação é olhar para os números e a gente não liderar as piores estatísticas. É olhar e ver que a violência contra as mulheres cresce e a maioria das vítimas são as mulheres negras. É ver que em pleno século XXl, mulheres negras morrem ao parir ou a procurar o procedimento de interrupção da gestação e morrem vítimas de abortos ilegais e inseguros. Precisamos trazer a nossa pauta, para todas as outras pautas”, disse Daniela Portela durante discurso em Pernambuco.
Rosa Marques, da Rede de Mulheres Negras de Pernambuco, também falou sobre a importância de visibilizar a data. “A gente veio para a rua pra dizer que nós mulheres negras estamos em situação de vulnerabilidade muito grande, que não somos minoria e estamos aqui resistentes e resilientes. E convido vocês, junto a nós, a construir essa caminhada rumo à Marcha de novembro, em 2025, com mais mil ou dois milhões de mulheres negras”, declarou.
“Nenhuma mulher a menos”, foi o pedido na 9ª Marcha das Mulheres Negras em Belém, no Pará. Parafraseando a ativista norte-americana, Angela Davis, essas mulheres se movimentaram para fazer a sociedade inteira se movimentar, pelo fim das violências enraizadas que atravessaram os navios negreiros e repetem até os dias de hoje os erros monstruosos do passado.
Pela nona vez, as mulheres paulistanas também foram às ruas neste dia 25 na 9ª Marcha de Mulheres Negras de São Paulo. A Praça da República ficou pequena para tantas que afirmaram a importância de se fazer presente para brigar por reparação e bem viver.
No Piauí, mulheres de axé trouxeram o sagrado para a Praça Fripisa e pediram o fim do racismo e da intolerância religiosa. Halda Regina, do Instituto da Mulher Negra do Piauí – Ayabás, falou sobre a responsabilidade das mulheres que marcham por tantas que estão impedidas, por diversas circunstâncias, de lutar por seus direitos.
“Se nós estamos aqui, estamos com essa responsabilidade de representação de outras mulheres que ficaram em cada lugar desse Piauí. Nós temos várias mulheres que estão conosco nesse momento e isso é muito importante saber. A gente quer uma marcha onde a gente possa discutir e falar para que as nossas demandas tenham resolução”, disse.
No Brasil, 25 de Julho é Dia Nacional da Mulher Negra e de Tereza de Benguela para reviver a luta dessa liderança quilombola, que impediu a escravização de seu povo por mais de duas décadas, mas que até pouco tempo atrás, não era nem sequer lembrada. Mulheres negras hoje, vão às ruas para cobrar direitos, reafirmar o legado de suas ancestrais e dizer, que NOSSAS VIDAS IMPORTAM.